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Sete em cada dez estudantes usam IA: por que as escolas precisam orientar mais do que proibir?

Por Caio Pinheiro O debate sobre o uso e os impactos da Inteligência Artificial (IA) vem crescendo a cada dia, e no campo educacional não é diferente. A rotina das escolas tem mudado, e a forma como conteúdos, projetos e habilidades são trabalhados em sala de aula precisa acompanhar esse movimento. Afinal, a tecnologia avança a passos largos, e a escola não pode ficar para trás. Esse avanço, inclusive, tem sido uma demanda que parte dos próprios estudantes, como apontado na nova pesquisa TIC Educação.

O levantamento revelou que 70% dos estudantes do Ensino Médio utilizam alguma IA generativa para pesquisas escolares, mas apenas 32% afirmam receber orientação da escola sobre como usar essa tecnologia de forma segura e responsável. Visto que a escola não consegue, nem deve, paralisar o acesso a esses mecanismos, ela tem o dever de guiar seu uso.

A pesquisa, realizada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic), revela uma nova demanda para as escolas: introduzir, de forma gradual e responsável, práticas que permitam a utilização de IAs, oferecendo suporte e treinamento para estudantes e docentes. Como qualquer recurso tecnológico, a IA exige cuidados éticos, críticos e responsáveis; e a implementação desse novo comportamento é tão urgente quanto desafiadora.


O desafio da orientação pedagógica

A pesquisa TIC Educação mostrou que 68% dos estudantes que utilizam IA, como ChatGPT e Gemini, para pesquisas e atividades, fazem isso sem orientação pedagógica das escolas. Na prática, acabam explorando sozinhos os recursos quase infinitos dessas tecnologias, o que os expõe a riscos que prejudicam o desenvolvimento pessoal e a aprendizagem.

70% dos estudantes do Ensino Médio utilizam IA como ferramenta de pesquisa, nos Anos Iniciais são 15%, Anos Finais somam 39%. Foto: Gustavo Pellizzon/SVM
70% dos estudantes do Ensino Médio utilizam IA como ferramenta de pesquisa, nos Anos Iniciais são 15%, Anos Finais somam 39%. Foto: Gustavo Pellizzon/SVM

Ao manusear, absorver e compartilhar conteúdos gerados por IA sem acompanhamento, os alunos correm o risco de cometer plágio, produzir trabalhos superficiais e deixar de desenvolver pensamento crítico.

Urge que as escolas adotem medidas pedagógicas que orientem os estudantes a manejar essas ferramentas com sabedoria, fortalecendo o processo de ensino-aprendizagem. Isso inclui formações sobre ética digital, oficinas de pesquisa responsável e, sobretudo, o incentivo à autoria em todos os projetos.


Implicações para o papel do professor e da escola

Assim como é dever da escola proporcionar formação continuada aos estudantes sobre o uso das inteligências artificiais, também é fundamental colocar o professor no centro desse debate. Afinal, é ele quem medeia o contato dos alunos com o conhecimento. Nesse novo cenário, o papel docente se desloca da simples transmissão de conteúdos para uma atuação mais estratégica, como curador e orientador, ajudando os estudantes a desenvolver senso crítico diante das respostas geradas pela tecnologia.


Essa mudança também impõe uma revisão nas metodologias de avaliação. Provas e trabalhos tradicionais, baseados apenas na reprodução de conteúdos, perdem força em um contexto em que ferramentas generativas entregam respostas prontas em segundos. A escola precisa investir em formas de avaliação que valorizem o processo, a argumentação, a criatividade e a capacidade de relacionar diferentes saberes.

Para que isso se torne realidade, a formação docente contínua é indispensável. Professores e gestores devem ter acesso a capacitações que não apenas apresentem as ferramentas, mas que também discutam limites éticos, implicações pedagógicas e boas práticas de uso em sala de aula.


IA generativa como catalisador de inovação educacional

Depois de orientar os estudantes para um uso responsável, capacitar os profissionais da educação e reformular processos que incluam a tecnologia de forma consciente, chega o momento de enxergar a inteligência artificial como parceira. Transformar aquilo que antes era visto apenas como risco em uma ferramenta pedagógica é o caminho mais promissor para impulsionar o ensino-aprendizagem nas escolas.

A IA generativa pode atuar como catalisador de inovação, abrindo espaço para experiências personalizadas e criativas. Essas ferramentas permitem adaptar conteúdos ao ritmo de cada aluno, apoiar pesquisas interdisciplinares, propor exercícios diferenciados e até ampliar a acessibilidade para estudantes com necessidades específicas. Em vez de uniformizar, a tecnologia pode potencializar a diversidade de formas de aprender.

Além disso, ao integrar a IA em projetos pedagógicos, a escola estimula a autoria e a colaboração. Professores e alunos podem co-criar textos, roteiros, apresentações e soluções para desafios reais, desenvolvendo habilidades socioemocionais e de pensamento crítico. Nesse processo, a tecnologia deixa de ser um “atalho perigoso” e se torna um recurso que amplia horizontes, preparando os estudantes para um futuro em que saber dialogar com as máquinas será tão importante quanto dominar os conteúdos curriculares.


Conclusão

A previsão é de que 10 em cada 10 estudantes utilizem alguma forma de IA em seus processos de pesquisa, estudo e ensino. As escolas, portanto, devem acompanhar esse avanço com precaução e responsabilidade, mas também com abertura à inovação. Ignorar ou proibir não detém a tecnologia; pelo contrário, afasta a escola de seu papel de orientar e preparar os jovens para os desafios do presente e do futuro. Cabe às instituições educativas transformar a IA em aliada, garantindo que ela seja usada de forma ética, crítica e criativa, para que o aprendizado ganhe novas camadas de significado e relevância.


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